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(excerto de uma reportagem publicada no FUGAS do Jornal Público de sábado 11 de fevereiro)

Na costa Norte, encontrámos um grupo de turistas que, à boleia da Wine Tours Madeira e da contadora de histórias Sofia Maul, foram ter ao Seixal, Porto Moniz. No alpendre da Terras do Avô, perguntavam a Sofia Caldeira que área de vinha tinha a família. "Temos 3,5 hectares, em 33 parcelas, entre as quais uma que tem apenas 19 metros quadrados. Para chegar lá, temos de subir muitos degraus antigos, de veredas, que são altíssimos. Da estrada até lá, são uns dois minutos, quase." Nova pergunta: "Porque fazem vinho aqui?" A engenheira agrícola, como o pai, ainda ensaiava a resposta, quando ouvimos a guia, a outra Sofia, atalhar assim: "Basicamente, por causa deste senhor aqui".

Duarte Caldeira, hoje com 80 anos, é outro irrequieto que começou a produzir vinho em nome próprio na vindima de 2002, aos 60. Foi pioneiro quando, numa região onde "tudo é difícil", viu e decidiu explorar o potencial da casta Verdelho — "não é Verdejo, nem Gouveio, é Verdelho", faz questão de ressalvar — na produção de vinhos brancos. E foi pioneiro quando lançou o primeiro espumante madeirense, em 2016. Enquanto nos vinhos tranquilos, trabalha com Paulo Laureano, como enólogo consultor, no espumante a frutuosa teimosia foi mesmo sua. "Fui para a Bairrada aprender e ver como é que eles faziam". Um deles sendo Luís Pato, produtor que o encorajou. Resultado: o espumante Terras do Avô já arrecadou "aí umas dez medalhas" em concursos.

Duarte Caldeira e a esposa recebem às vezes os turistas, mas não é habitual. Ele anda sempre em cima da vinha e "destina" diariamente os cuidados a ter com cada pé de videira. O enoturismo, a promoção e toda a burocracia do negócio são assumidas por Sofia. De maneira que ouvi-lo é sempre um privilégio. Algumas das histórias que conta estão já em livro, no título A Agricultura Madeirense e Eu, lançado durante a pandemia e que fala da vinha, mas também de bananeiras e da cultura de cana-de-açúcar. E onde relata momentos de mudança, como aquele que protagonizou quando ajudou outros viticultores do Seixal (40 projectos, para ir buscar 50 por cento ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, num total de 13 hectares) a reconverter o Jaquet, usado para produzir o vinho seco, em "vinha boa".

Duarte CaldeiraCréditos: Fotografia do jornal "Público"

O Engenheiro Técnico Duarte Caldeira (Terras do Avô) é um dos nomes incontornáveis quando se fala de vinhos da Madeira, aos 60 anos (já lá vão 20) aventurou-se a fazer vinho tranquilo de Verdelho na costa Norte da ilha. É seu também o primeiro espumante madeirense Gregório Cunha.

Os Caldeira recebem por marcação, para provas (a partir de 17,50 euros por pessoa) e almoços mais elaborados (a partir de 50 euros por pessoa), mas o enoturismo, iniciado há uns dez anos, "já representa 20 e tal por cento" do negócio e Sofia tem planos para remodelar uma garagem contígua à casa no Seixal (a vinificação é feita na adega pública de São Vicente) e "ver até que ponto é que seria viável ter alguma coisa aberta todos os dias".

Ver noticia completa em:

https://www.publico.pt/2023/02/09/terroir/reportagem/rota-vinhos-diferentes-terroirs-madeira-2037570